Com o assassinato do meu pai, eu e meus irmãos (Ana, Kátia, Kardec, Kleber e Keila, cunhados: Holace, Noemi, Joice) nos juntamos para fazer um trabalho de esporte com jovens de Urucará, comunidade do Castanhal, onde meu pai nasceu. Em oito anos mobilizamos tios (Artur/Mário/José Alberto/Dionéia/ Pedro/Dorotéia/Dulcimar - Libórios), primos e amigos, que acreditavam no nosso sonho, e fizemos a
Copa Prof. Valdino - Por um Mundo de Paz, esse era o tema, sendo assim sempre premiamos o torneio com material esportivo.
Esse perfil de luta deve-se a formação familiar, que sempre pautou pela educação, harmonia, solidariedade, respeito, honestidade entre tantos outros valores e aos amigos que ao longo da vida foram multiplicando-se.
Foi com todos estes sentimentos que na última sexta-feira, 28.08, comemorei meus 40 anos com o tema Safra 80. Pois em meio a toda a movimentação política como o fim da Ditadura Militar, Diretas Já, Eleição Presidencial (
Lula lá, brilha uma estrela ... - hit dos engajados politicamente), Queda do Muro de Berlim, Fim da Guerra Fria, entre outro
s havia divertimento e cultura, muita cultura. Também, não poderia deixar de registrar que nessa década o Garantido foi Penta-Campeão; o Flamengo Campeão do Mundo; nós tínhamos a seleção do futebol arte, não ganhou, mas sem dúvida alguma inesquecível; havia a equipe de prata do vôlei com o viagem ao fundo do mar e o jornada nas estrelas; o basquete de Oscar e CIA ganhou dos EUA, dentro da sua própria casa. Puxa cada lembrança boa.
Na área cultura a
musicalidade dos filhos da ditadura explodia. Filhos de classe média, de diplomatas, de políticos e de militares iniciavam o movimento rock pop, rock punk...Com influência das bandas que agitaram e fizeram a trilha sonora dos então jovens, de 1968/69 e 70, e agora pa
is. A história da revolução voltava a se repetir, mas agora a revolução não era mais armada, mas acima de tudo musical. No meio dessas bandas e cantores, surgiam gênios da poesia/filosofia musical como Cazuza, Renato Russo, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Herbert Viana, Lobão.. E ainda, bandas e músicos de um único sucesso.
Por aqui o Festival Universitário e o Fecani agitavam a cultura local. Já a noite de Manaus era fant
ástica, uma província gostosa, todos se conheciam e iam para os mesmos bares. Se quisesse ver o fim da tarde e conversar com pessoas bem informadas, intelectualizadas tinha o
Bar do Armando. Sair do Teatro Amazonas e não esticar até lá, era o cúmulo. E nessa época, nas mesas do Armando várias decisões políticas foram tomadas, os políticos eram freqüentadores do lócus. Hoje, infelizmente, os políticos fogem de seus eleitores como o diabo foge da cruz.
E nesse clima, esquerda festiva, foi fundada a Banda Independente da Confraria do Armando-Bica
, que fará 24 anos em 2010.
Se saía do Cinema ou quisesse esticar a noite depois do Armando tinha o
Consciente. Música ao vivo. Os freqüentadores tinham oportunidade de ouvir no barzinho: Torrinho, Célio Cruz, Pereira, Cileno, Lucinha Cabral, Celito. Além deles, nomes nacionais como de Nilson Chaves e Boca Livre. Era comum ter vernissage, principalmente de Arnaldo
Garcez e recitações. Foram grandes nomes que iniciram nos bares, entretanto, sem perder a objetividade, o profissionalismo. O Consciente, também, tinha uma banda que saia pelas ruas do centro de Manaus no dia 31 de dezembro, cheia de bichices.
Bom, mas depois de rodar tantos outros bares da cidade o ideal era findar a noite no
Paulo`s Bar, que tinha som ao vivo dançante com Maca e Renatinho. Foi lembrando esses locais que cada mesa da festa,
Safra 80, tinha um cardápio com os seus nomes, permeado de lembranças de casos, causos e acima de tudo pessoas, como
Celeste, Celestial... Dentre os bares: Arte´s Drinks, Asa Delta, Tarugos, Clube da Esquina, Bar do CREA, Caranguejo, Galvez e início de 90 TapereBar(Michelle).
Na década de 80, lembro com muito carinho, também, da turma que passava o carnaval em Urucará, a excursão era coordenada pelo Frank. Então, eu passava o ano todo aqui, mas o carnaval tinha q
ue ser lá. Nesse grupo estavam Jean, Ico, Bosquinho, Kátia, Kleber, Kardec, Pelecadas, Tânia, Mita, Ricardo, Louro, Legue, etc. Fiz questão de reencontrá-los, porque não temos como esquecer essa época e as milhões de histórias de quase uma década de carnaval em Urucará. Não posso deixar de mencionar o final da noite, ou o início da manhã? Não sei, quem quiser interpretar que interprete. Mas, o fato é que a mi
nha mãe preparava uma imperdível e deliciosa sopa, fazia parte do ritual ir a minha casa. A diretoria trazia de vez em quando um convidado para a sopa, que passava pela aprovação, é claro, dos membros, entretanto houve pouquíssimos vetos, o teor etílico era generoso.
Com toda esta história e com o compromisso social inerente a minha pessoa, é que, nesta data especial, lancei a
campanha Gibiteca na Escola Pública. Com as doações, no dia da festa e outros gibis que estou doando, estaremos entregando os cem primeiros livrinhos em breve. Esclareço, que esta campanha me acompanhará, a partir de agora, por toda a vida. Não posso desacreditar, como educadora, que o Brasil pode ser mudado através da leitura. Há a real necessidade de melhorar o índice brasileiro de analfabetos e analfabetos funcionais. Tornando pessoas mais críticas.
Oportunamente, agradeço aos amigos que aderiram a campanha, e o fato de acreditarem em mim e nos meus sonhos coletivos, doando os gibizinhos solicitado no convite. Pra vocês Raul Seixas: " um sonho que sonha só, é só um sonho. Um sonho que se sonha junto é realidade..." Obrigada.
Nesta celebração da vida, convidei todas as pessoas que já militaram comigo nos mais diferentes fronts e que também souberam viver a vida. Além de destacar, carinhosamente, a
presença da minha mãe, D. Dora, que veio de Urucará para cá. Sendo assim brindo a todos,
e, até o próximo ano se Deus quiser.
Ao Alfred que voltou de suas peregrinações para comemorar comigo esta data: um carinho especial. E... Preta , amiga, valeu!!!!
Salve Jorge!!!!!